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2025 anos atrás, faltava hospedagem em Belém. Por Nizan Guanaes

2025 anos atrás, faltava hospedagem em Belém

Há 2025 anos, numa cidade também chamada Belém, também faltava hospedagem. Mas, ainda assim, a Esperança escolheu Belém para nascer. Torço para que, nesta COP de Belém, aconteça a mesma coisa.

Acho bonito e mágico a COP ser na Amazônia. A Amazônia é literalmente "o" lugar de fala para o tema. Não sou cego às dificuldades e os transtornos inerentes à escolha. Mas será que não estava na hora de o establishment global sair da sua zona de conforto? O fórum mundial de Davos é realizado todos os anos num lugar de péssimas instalações que custam os dois olhos da cara. O Ocidente, com sua enorme cara de pau, fica predicando regras. Mas a Europa só não tem problemas de desmatamento porque já desmatou quase tudo.

Não sou especialista em mudança climática, mas sinto que é preciso ter uma discussão madura e pragmática sobre sustentabilidade. Interditar o debate não torna mais fácil esse difícil e indispensável processo de preservação ambiental e transição energética.

Na minha compreensão rasa, não me parece razoável que o Brasil simplesmente vire as costas para seu petróleo, mas que faça como a Noruega e use receitas com combustíveis fósseis para financiar a própria transição. Investindo, como o país nórdico, em tecnologias limpas, sustentabilidade e um alto padrão de proteção ambiental.

É uma questão de inteligência estratégica, de equilíbrio entre a riqueza da nossa biodiversidade e o potencial de desenvolvimento econômico. O Brasil é uma terra de extremos: de uma riqueza ambiental incomparável e de vulnerabilidades sociais que precisam ser enfrentadas com coragem. A presença e expansão do crime organizado na Amazônia é hoje um dos maiores riscos para a floresta e seus habitantes.

E não podemos esquecer que a preservação não é uma escolha antagônica ao progresso. Pelo contrário: no caso do Brasil, ela é a nossa maior vantagem competitiva. O mundo busca, cada vez mais, por países que conciliam crescimento econômico com responsabilidade ambiental. Nosso maior desafio é compreender que esses dois princípios não estão em guerra, mas podem e devem caminhar juntos.

A crise climática exige ações concretas, mas também exige autoridade moral. Para o Brasil ser um país de oportunidades realizáveis, ele também deve ser um país de compromissos efetivos. A COP em Belém só aumenta a nossa responsabilidade.

Já ficou batido o mantra de transformar a nossa vocação de biodiversidade em uma oportunidade de inovação e desenvolvimento sustentável, criando um modelo de referência mundial que valorize o nosso patrimônio ecológico. A COP amazônica é mais uma oportunidade para uma trilha mais efetiva nesse objetivo.

A verdadeira mudança começa com o reconhecimento de que os interesses econômicos, ambientais e sociais são complementares, não opostos. Precisamos de políticas públicas inteligentes, de incentivo à preservação aliada à inovação tecnológica e inclusão socioeconômica, de parcerias globais que reconheçam o papel do Brasil não como um grande desmatador a ser contido, mas como um catalisador de soluções escaláveis. Como aponta Isabella Teixeira, uma das vozes mais lúcidas nesse setor, desenvolvimento é aquilo que une gente, natureza e economia.

A esperança de que a COP de Belém seja uma virada para uma sustentabilidade de fato sustentável passa por uma agenda de integração e diálogo, sem desclassificar ou calar os céticos. Essa trilha não tem funcionado. Pelo contrário, os céticos estão ficando cada vez mais fortes, alimentados por visões muitas vezes radicais do outro lado do debate.

A preservação ambiental não significa perda de recursos, mas um investimento na nossa própria sobrevivência. E isso precisa ser comunicado de forma efetiva para ser entendido e apoiado por um público cada vez maior.

Existe uma frase bíblica que diz “Pode sair alguma coisa boa de Nazaré?” Que, sob as bençãos de Nossa Senhora de Nazaré, algo de lindo nasça em Belém, 2025.

Nizan Guanaes 

 Criador da N.ideias, consultoria das principais marcas do Brasil, Itaú, iFood, Sabesp, ArcelorMittal e JHSF. Investidor e Embaixador Global da UNESCO.

 


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