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Entre Jorge e Jair

A disputa em torno da indicação ao Supremo Tribunal Federal coloca o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, numa posição que amplia seu raio de influência ao bater de frente com o presidente da República e faz reverberar ainda mais o poder que já havia demonstrado quando, no comando da CCJ, segurou por meses o nome de André Mendonça indicado pelo então presidente Jair Messias Bolsonaro. Se naquela ocasião Alcolumbre testou a força do então presidente da República, segurando a indicação na CCJ o quanto pôde. Agora mais um Messias enfrenta o poderoso Alcolumbre, desta vez o Advogado Geral da União, Jorge Messias, indicado por Lula para a vaga do ministro Luis Roberto Barroso, contra a vontade do presidente do Senado.

Lula enfrenta um terreno escorregadio. Se insistir em Jorge Messias insiste numa colisão frontal com Alcolumbre, que opera para construir resistências dentro do Senado e não esconde a disposição de deixar a indicação sangrar. Uma derrota desse tipo seria histórica: há 131 anos um presidente não perde uma indicação para o Supremo, e o abalo político seria imediato. Por outro lado, recuar e aceitar o nome defendido por Alcolumbre, no caso o senador Rodrigo Pacheco, soaria como uma capitulação e o enfraquecimento da Presidência da República, abrindo precedente para que o Senado se tornasse o verdadeiro dono da caneta das indicações.

Se não viabilizar seu Messias, Lula, que sofreu pressão crescente dentro do próprio campo progressista para nomear uma mulher negra, pode optar por um nome mais radical e mandar a demanda, encampada por movimentos sociais, atravessarem a praça e jogar no colo dos senadores o nome da ministra do Superior Tribunal Militar, Maria Elizabeth Rocha. Ela é vista por alguns articuladores do governo como uma alternativa capaz de deslocar a disputa para outra direção e neutralizar a força de Alcolumbre sem abrir mão de um nome com sólida trajetória jurídica. A ministra teve que enfrentar todo tipo de pressão para ser a primeira mulher presidente do STM e se envolveu recentemente em uma polêmica que irritou parte dos militares ao pedir perdão às vítimas de violações de direitos humanos durante a ditadura militar.

A disputa vai muito além da simples escolha de um ministro. É uma batalha de força, narrativa e cálculo eleitoral. Se Lula mantiver Messias, pode sofrer um revés histórico; se optar por uma mulher, empurra para o Senado o peso das conseqüências de se opor à indicação. Tudo isso enquanto Alcolumbre se movimenta pensando em 2026, quando deverá se posicionar em um ambiente novamente polarizado, provavelmente distante da reeleição de Lula.

Entre Jorge e Jair, o fio que conecta passado e presente é a capacidade de Davi Alcolumbre de transformar a política em um jogo de pressão contínua. Mas, desta vez, ele pode ter acendido um pavio que não controla totalmente e um movimento errado pode obrigá-lo a consagrar justamente aquilo que tanto tenta evitar.


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