O Papa Leão XIV publicou neste domingo (23) a Carta Apostólica In unitate fidei, documento que marca os 1700 anos do Concílio de Niceia e que funciona, sobretudo, como um chamado à recomposição interna da Igreja. O texto chega após seu primeiro pronunciamento oficial como Pontífice, quando destacou a continuidade do legado social de Francisco, e aborda outro eixo urgente do seu papado: a unidade eclesial.
Leão XIV sucede um Papa que abriu novas perspectivas pastorais, ampliou o diálogo com as periferias e tensionou estruturas tradicionais. O resultado, porém, foi também uma Igreja dividida entre entusiasmos e resistências, com setores conservadores vocalizando críticas e disputas internas ganhando intensidade nos últimos anos. É nesse terreno fraturado que In unitate fidei se insere.
Diferentemente do estilo expansivo de Francisco, voltado ao mundo, Leão XIV escolhe falar primeiro para dentro. A Carta recupera o Credo de Niceia — professado por todas as tradições cristãs — e afirma que a fé comum “é o vínculo que sempre sustentou a Igreja, mesmo nos tempos de maior conflito”, numa clara demonstração de sua missão já assumida no discurso proferido quando foi escolhido Papa de reconstruir a comunhão interna.
O Papa afirma que “o que nos une é muito mais do que o que nos divide”, frase que dialoga com as disputas teológicas e ideológicas que marcaram o catolicismo recente. Ele defende a superação de controvérsias que “perderam a sua razão de ser” e propõe um caminho de escuta, reconciliação e conversão, uma espécie de desarmamento espiritual necessário para restaurar a confiança entre correntes eclesiais.
A publicação ocorre às vésperas de sua primeira viagem internacional, que inclui uma peregrinação a Iznik, a antiga Niceia. Mas, apesar do simbolismo externo, In unitate fidei não é direcionada ao mundo, e sim ao coração da própria Igreja. Leão XIV reforça que a unidade não significa uniformidade, mas a capacidade de sustentar diferenças dentro de um mesmo corpo, algo indispensável para que a Igreja recupere voz moral e coerência institucional.
A Carta termina com uma oração ao Espírito Santo, pedindo que Ele una “corações e mentes” e conduza os cristãos “de volta ao essencial”. Com isso, Leão XIV sinaliza seu projeto de pontificado: continuar a prioridade social deixada por Francisco, mas recolocar a unidade como condição indispensável para que a Igreja volte a falar com autoridade num mundo polarizado.