Ganhou força nos bastidores da política potiguar, nos últimos dias, a possibilidade de o vice-governador Walter Alves (MDB) não assumir o Governo do Estado quando Fátima Bezerra se desincompatibilizar, em abril, para disputar uma vaga no Senado. Embora publicamente ele reafirme que assumirá o cargo e não será candidato nas eleições de 2026, nos bastidores pessoas ligadas ao vice vem espalhando o boato de que não assumirá o Governo no que vem, sendo entendido como um recado para a governadora Fátima que afasta a possibilidade de se desincompatibilizar em janeiro
Até o prazo final para as convenções pouca gente acredita que ele será governador por apenas nove meses para ficar sem mandato nos próximos dois anos no mínimo. Se assumir em abril, Walter Alves só poderia disputar a reeleição. Caso renuncie ao mandato de vice-governador fica livre para tentar uma vaga no legislativo.
Pessoas próximas ao MDB afirmam que o cálculo político e fiscal mudou depois que ele solicitou a pessoas de confiança um diagnóstico completo das contas estaduais antes de tomar qualquer decisão definitiva. O material recebido acendeu um alerta vermelho: há risco concreto de atraso na folha de pagamento já no segundo semestre de 2026, com um déficit orçamentário de R$ 3 bilhões, mesmo com o alívio da chamada PEC dos Precatórios, e dívidas acumuladas que somam o dobro disso.
Uma mostra da situação fiscal pode ser comprovada com base no recuo expressivo no ritmo de investimentos do Estado, na contramão do que acontece no Nordeste, conforme matéria publicada nesta segunda-feira pelo jornal Valor Econômico a partir de dados levantados pela Aequus Consultoria.
Entre janeiro e agosto, os investimentos liquidados pelo RN caíram 35,5% em relação ao mesmo período de 2024, somando apenas R$ 214 milhões, corrigidos pelo IPCA em valores de outubro. Enquanto isso, o Nordeste registrou crescimento médio de 12,25%, puxado pelo forte desempenho de estados vizinhos. Sergipe investiu R$ 522 milhões (alta de 61%). A Paraíba, R$ 1,32 bilhão (40%). O Piauí, R$ 2,25 bilhões (21%). Alagoas, R$ 910 milhões (9,7%). Entre os maiores, a Bahia lidera com R$ 4,17 bilhões, seguida pelo Ceará com R$ 2 bilhões e Pernambuco, com R$ 1,96 bilhão (23%). Na vizinha Paraíba, o nível de investimento chegará a 15% da Receita Corrente Líquida, patamar distante da realidade potiguar.
É nesse contexto que se desenha o dilema de Walter Alves. Se assumir o governo, ficará proibido de disputar qualquer cargo em 2026, podendo concorrer apenas à própria reeleição — um cenário considerado politicamente arriscado diante das dificuldades fiscais projetadas. Se não assumir, preserva a possibilidade de disputar um mandato na Assembleia Legislativa ou na Câmara Federal, alternativas vistas como mais seguras por parte de seus aliados e deixa Fátima Bezerra em maus lençóis para deixar o governo sem um sucessor aliado na cadeira.
PS: A divulgação do Acordo no STF que permitirá ao Estado receber o aval da União para contrair novo empréstimo de até R$ 855 milhões abre espaço para um entendimento. Rssta saber quanto desse valor Fátima vai deixar para ser contratado e executado depois de abril de 2026, melhorando a situação do caixa estadual durante a gestão Walter Alves