“É a economia, estúpido!”, a frase celebrizada nas eleições de 1992, que levou Bill Clinton à presidência dos Estados Unidos, frequentemente citada para mostrar a relação entre economia e política, poderá nas ser substituida nas eleições do próximo ano por "É a segurança, estúpido".
A megaoperação contra o Comando Vermelho no Rio de Janeiro, que resultou em mais de 120 mortos, e toda a polêmica que ela levantou não deixa dúvidas: a segurança pública será um dos temas centrais das eleições de 2026. Em estados como o Rio Grande do Norte, essa pauta também é bastante polêmica e a disputa por narrativas, com base ou não em resultados concretos, estará presente nas campanhas.
A governadora Fátima Bezerra (PT) se apresenta como gestora de avanços na segurança, depois dos episódios de violência expressivos. Em 2023, o RN registrou ao menos 252 ataques coordenados contra prédios públicos, comércios, veículos e a população, retaliação de facções criminosas a ações repressivas que resultaram em prisões e ao que reclamavam ser o tratamento dado nos presídios estaduais. Para conter a escalada de violência, o governo federal enviou a Força Nacional, e o então ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, esteve em Natal para acompanhar as operações e se reunir com a equipe estadual de segurança. Operações integradas como essa reforçam a percepção de que o Estado está estruturando uma política de combate efetivo às facções, mas o cenário continua volátil: qualquer falha pode gerar novos episódios de violência.
É nesse ambiente que a disputa eleitoral começa a se desenhar. Deputados como o Sargento Gonçalves e o General Girão, e o senador Styvenson, provenientes das chamadas Forças de Segurança, capitalizam na política local o discurso dos representantes da direita mais radical, e colocam a segurança como bandeira central de seus discursos, em grande parte responsável pelo mandato que detêm hoje, criticando a governadora e o governo federal. A narrativa é que o PT, no caso local a governadora Fátima, “defende bandidos”.
Um papel de destaque nessa polarização é o do senador Styvenson Valentim. Atualmente em posição confortável para a reeleição, ele já admite disputar o governo do Estado em 2026, o que o coloca diretamente na rota de confronto com Fátima Bezerra. Styvenson tem se posicionado como defensor de medidas mais duras contra o crime, como dar poder de polícia às guardas municipais e acionar as Forças Armadas se necessário, reforçando o discurso de que o Estado estaria vulnerável diante das facções criminosas. Sua postura deve intensificar a polarização e transformar a segurança pública no principal eixo da disputa estadual.
Apesar do discurso, Fátima tem números favoráveis a mostrar. Desde 2011 quando começou a ser feita a estatística sobre atos criminosos no Estado, o auge aconteceu em 2017 quando foram registrados 2.727 mortes violentas, portanto, antes de Fátima assumir. Desde então, a curva tem sido descendente até o ano passado quando chegou a 565. Este ano, no entanto, houve um novo aumento no número de mortes violentas, mas outras crimes continuam caindo como assalto a residências ou comércios e o roubo de veículos que caiu mais de 30%.
O desafio para a governadora e aliados é duplo: manter a redução da criminalidade, mostrando resultados concretos, e ao mesmo tempo neutralizar ataques políticos que exploram a insegurança e vencer a narrativa negativa que é muito mais facilmente sentida pela população.
Se Fátima conseguir sustentar a paz até 2026, a segurança pode se tornar uma bandeira eleitoral poderosa, capaz de reforçar seu discurso de gestão responsável. Mas ela carrega consigo a marca do PT, ou seja, precisará da cooperação da União para mostrar articulação e eficácia. Nesse sentido, o RN já foi piloto na Operação Território Seguro, que o governo federal tenta deflagrar nacionalmente para retomar territórios dominados pelo crime organizado.
Os governadores de direita aproveitaram o episódio do Rio de Janeiro para reverberar o discurso contra o governo federal e o PT, que assume a defesa dos Direitos Humanos, como defensores de bandidos. Um discurso simplista, mas muito mais assimilável por quem anda com medo de andar pelas cidades vitima de todo tipo de crime. Agora, querem passar no Congresso a lei que classifica essas facções criminosas como terroristas. O governo Lula resiste a essa pressão com temor de que essa classificação poderia dar a governos como o de Donald Trump a desculpa para reproduzir contra o Brasil atos como os que têm feito na Venezuela.
A pressão vai crescer para cima do presidente da Câmara, Hugo Motta, para que leve a plenário o projeto que equipara a atuação de milícias e facções criminosas a terrorismo. A ideia seria votar ainda nas duas primeiras semanas de novembro.
Hoje, a lei antiterrorismo prevê que uma ação é terrorista se envolver xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião. O projeto que deve ser apreciado na Câmara inclui na lista ações que imponham domínio ou controle de área territorial. Que é o que as facções criminosas fazem hoje.
Favela x Faria Lima
No governo federal, o tom é outro. A intenção é mostrar que o governo age com inteligência combatendo o crime organizado através do asfixiamento das receitas. O ministro Guilherme Boulos já chegou ao Planalto dando o tom ao dizer que tem orgulho de “fazer parte do governo do presidente que sabe que a cabeça do crime organizado deste país não está no barraco de uma favela. Muitas vezes, está na lavagem de dinheiro da Faria Lima.”
Se a segurança será tema das campanhas majoritárias, para parlamentares estaduais e federais o tema também ganha centralidade. Deputados que se posicionarem como defensores de políticas de segurança e de leis de combate às facções poderão ampliar visibilidade e consolidar base eleitoral.
Uma coisa é certa, a direita vai se agarrar com tudo na pauta do “bandido bom é bandido morto” e que o governo Lula não está fazendo nada para garantir a segurança da população, "protegendo a bandidagem".
Aqui no RN, Fátima tem resultados para mostrar se mantiver as coisas nos níveis que estão hoje, mas tem total identificação com o PT e o governo federal. Só lhe resta atuar para evitar que a narrativa política que quer vincular os partidos de esquerda ao crime não cole para a maioria dos eleitores.