A recente abertura de uma investigação comercial pelos Estados Unidos contra o Brasil colocou o sistema de pagamentos instantâneos Pix no centro de uma disputa diplomática. Sob a justificativa de apurar práticas comerciais desleais, o governo norte-americano — por meio do Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) — passou a investigar uma série de medidas adotadas pelo Brasil que, segundo o relatório oficial, “podem prejudicar a competitividade das empresas americanas que atuam no comércio digital e em serviços de pagamento eletrônico”.
O alvo principal da ofensiva é o Pix, plataforma criada pelo Banco Central do Brasil e adotada em larga escala pela população brasileira. A ferramenta, que completou pouco mais de quatro anos de operação, já responde por mais de R$ 2 trilhões em transações mensais e deve ultrapassar o uso de cartões de crédito no comércio eletrônico ainda em 2025, segundo projeções do mercado. Em junho deste ano, o Pix bateu recorde com 276,7 milhões de operações realizadas em um único dia.
O documento americano argumenta que serviços como o Pix teriam “favorecimento estatal”, o que configuraria uma barreira à livre concorrência para empresas dos Estados Unidos. A menção ao sistema de pagamentos brasileiro gerou reação imediata em Brasília. O presidente Lula classificou a medida como um ataque à soberania nacional e iniciou uma campanha nas redes sociais em defesa da ferramenta. “O Pix é do Brasil e dos brasileiros! Parece que nosso Pix vem causando um ciúme danado lá fora, viu?”, diz uma peça da campanha lançada nesta quarta-feira, que tem como mote o "O Pix é nosso, my friend", ressaltando que o sistema é “seguro, sigiloso e sem taxas”.
Criado em novembro de 2020, o Pix rapidamente superou meios tradicionais como TED, DOC, cartões de débito e crédito. De acordo com estudo da Fundação Getulio Vargas, 60% da população brasileira usou o sistema no ano passado. Novas funcionalidades, como o Pix Automático e o pagamento por aproximação via NFC, devem ampliar ainda mais sua popularidade.
Ao transformar um sistema financeiro nacional em alvo de uma disputa comercial internacional, os Estados Unidos acabaram dando ao governo Lula a oportunidade de defender uma das principais inovações da economia brasileira recente. E, na tentativa de desestabilizar o uso do Pix, colocaram-no ainda mais no centro da vida cotidiana dos brasileiros — agora também como símbolo de autonomia tecnológica.