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A Hora H do clima 5

Um salto na entrega das NDCs

O primeiro dia da COP30 em Belém marcou um avanço no número de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) entregues, chegando a 111, o que cobre 71% das emissões globais. Este aumento significativo se deve principalmente à inclusão formal dos 27 membros da União Europeia na contagem individual. No entanto, o relatório de síntese da UNFCCC revela que, mesmo com as novas metas, a projeção de queda de emissões de apenas 12% até 2035 está muito aquém do corte de 60% necessário para limitar o aquecimento global a 1,5°C.

Acordo de Paris →O aumento no número de NDCs demonstra um movimento de conformidade com o Acordo de Paris, mas a inclusão em massa da União Europeia inflou a estatística sem representar um aumento radical na ambição individual. O dado mais crítico é a "lacuna de ambição" destacada pela UNFCCC: as promessas atuais são insuficientes para evitar os piores impactos da crise climática. A ausência de NDCs de grandes poluidores como Índia, Irã e Arábia Saudita agrava este problema. Isso significa que a urgência da ação climática efetiva está sendo negligenciada pelos principais players.

Planos começam a surtir efeito →A importância reside na confirmação de que os planos nacionais de clima estão, de fato, começando a surtir efeito, evitando um cenário muito pior de aumento de emissões (que antes do Acordo de Paris era projetado entre 20% e 48% até 2035). O relatório serve como um alerta e base para as negociações da COP30, evidenciando que as NDCs devem ser vistas como o piso, e não o teto, da ambição climática. O fato de pequenos países insulares terem pedido a inclusão oficial da discussão sobre essa lacuna de ambição na agenda mostra que há pressão por um aumento de metas e uma transição mais rápida e justa dos combustíveis fósseis.

Mais pressão →No futuro, a pressão de blocos vulneráveis e da sociedade civil deverá resultar em um compromisso reforçado para a próxima rodada de NDCs, forçando as nações a abandonarem a inércia dos combustíveis fósseis em favor de energias renováveis. O desafio de fechar a lacuna de 48 pontos percentuais de corte de emissões exigirá um mecanismo de Global Stocktake (Balanço Global) mais rigoroso e a criação de metas intermediárias anuais, transformando o "pico" atual das emissões em uma queda acentuada e irreversível.


América do Sul pode gerar 12 milhões de empregos com transição energética

Um novo relatório da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena), divulgado na COP30, aponta um enorme potencial econômico na América do Sul ao acelerar a transição energética. A estimativa é de um crescimento adicional no PIB de 1,1% ao ano até 2050 e a criação de 12 milhões de novos empregos no setor de energia. A região, já líder histórica em energia limpa devido à sua matriz baseada em hídrica, eólica, solar e biocombustíveis, possui uma base sólida para a descarbonização. No entanto, o principal desafio é o financiamento. Pelo relatório, a região precisa multiplicar os investimentos anuais por nove, saltando de cerca de US$ 58 bilhões aplicados em 2024 para uma média de US$ 500 bilhões anuais até 2050.

Oportunidade econômica →O relatório "Perspectivas da Transição Energética Regional: América do Sul" da Irena reposiciona a luta contra as mudanças climáticas de um custo para uma oportunidade econômica massiva. A mensagem central é que a transição energética não é apenas uma necessidade ambiental, mas uma poderosa estratégia de desenvolvimento regional. A expansão massiva de renováveis e o fortalecimento da integração regional de redes elétricas são vistos como os pilares para garantir flexibilidade e resiliência. Significa que, ao investir em descarbonização e reindustrialização sustentável, a América do Sul pode impulsionar o valor agregado de sua produção e o comércio interno, reduzindo a dependência de commodities fósseis.

Números justificam investimentos →Ao quantificar os benefícios, a Irena fornece uma ferramenta para governos e investidores justificarem a realocação de capital para projetos de energia limpa. A ênfase na bioenergia de curto e médio prazo e a eletrificação de longo prazo oferecem um caminho pragmático para descarbonizar setores-chave.

América do Sol, polo global →Se os países da América do Sul conseguirem mobilizar a média de US$ 500 bilhões por ano, a região se transformará em um polo global de energia limpa e de tecnologias de descarbonização. Veremos um aumento da integração energética regional, com intercâmbio de eletricidade limpa entre países, maior estabilidade das redes e a reindustrialização baseada em processos de baixo carbono, como o hidrogênio verde. A meta dos 12 milhões de empregos resultará em uma força de trabalho mais capacitada e com maior foco em sustentabilidade.


Empresas brasileiras lançam o “Impacta COP30: Além do Clima”

O Instituto Ethos lançou na COP30, em Belém (PA), o manifesto "Impacta COP30: Além do Clima", um guia para a atuação empresarial que busca integrar as agendas de clima, direitos humanos, integridade e sustentabilidade. O documento visa mobilizar o setor privado para ir além da mitigação de carbono, exigindo compromissos concretos com transparência, governança ética e justiça socioambiental em toda a cadeia de valor. O objetivo é posicionar as empresas como agentes ativos de transformação no enfrentamento das crises climática e social, consolidando o Brasil como líder em uma economia sustentável e inclusiva.

Qual a Importância para as Mudanças Climáticas?

O “Impacta COP30” contribui para o combate ao aquecimento global ao exigir compromissos que vão além da descarbonização. Ao integrar o clima com a justiça socioambiental, o manifesto garante que a transição energética e a adaptação climática sejam justas e beneficiem as comunidades mais vulneráveis, como as da Amazônia.

O Futuro

No futuro, este manifesto poderá se tornar um padrão de referência (benchmark) para a atuação empresarial no Brasil e, potencialmente, em outros países em desenvolvimento com desafios socioambientais complexos. Se as diretrizes do Ethos forem amplamente adotadas, veremos uma mudança de paradigma com o sucesso corporativo medido não apenas pelo lucro, mas também pelo impacto positivo líquido que a empresa gera em termos ambientais e sociais.


O que mais

👍A Agropalma, empresa brasileira reconhecida mundialmente como referência na produção sustentável de soluções com óleo de palma, anuncia a retomada na fabricação de biodiesel com a inauguração de uma nova planta industrial no Pará. O marco representa o retorno da companhia ao mercado de biocombustíveis após um hiato de 15 anos. A nova planta é a primeira de reação 100% enzimática no estado paraense e uma das primeiras a utilizar essa inovação no Brasil. Ela permite que a indústria utilize qualquer tipo de matéria-prima oleosa, incluindo óleos com alta acidez e resíduos graxos.

👍O Grupo Lev, que reúne as marcas de mobilidade elétrica Lev e Onn, anuncia a campanha “Green Friday”. Durante todo o mês de novembro, 10% do lucro das vendas da marca será destinado à recuperação da Mata Atlântica, em parceria com a Associação Ambientalista Copaíba, com sede em Socorro (SP). A ação inclui benefícios ao consumidor, com até 15% de desconto na compra de bicicletas e scooters elétricas no período. São 15% à vista ou 7% no parcelado até o dia 30 de novembro

👍A governadora Fátima Bezerra (PT) sancionou a lei que cria a Política Estadual de Incentivo à Reciclagem, à Circularidade e ao Sistema de Logística Reversa, aprovada por unanimidade na Assembleia Legislativa. De autoria do deputado Hermano Morais, obriga a fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos com embalagens recicláveis a estruturar sistemas de logística reversa. A lei cria ainda o Certificado de Crédito de Reciclagem, que só poderá ser emitido por cooperativas e associações de catadores formalizadas. A nova política estabelece responsabilidades para empresas, distribuidores e grandes geradores de resíduos.

Frase do Dia

 “Servir carne em uma conferência climática é como distribuir cigarros em uma conferência de prevenção ao câncer. A indústria de agricultura animal é uma das maiores causadoras de desmatamento e da catástrofe climática que está assolando o planeta”,

Paul McCartney, músico


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Heverton de Freitas