Itaú/FGV mostra criação de 2 milhões de empregos com economia de baixo carbono
O estudo "Benefícios da Transição para uma Economia de Baixo Carbono", do Itaú Unibanco e FGV, revela que a descarbonização no Brasil não é um custo, mas sim uma oportunidade maciça de crescimento. A transição pode gerar um impacto positivo de até R$ 465 bilhões no PIB e criar até 1,9 milhão de novos empregos até 2035, principalmente na expansão de fontes renováveis de energia e na adoção de tecnologias no agronegócio. Cada R$ 1 investido em energia limpa pode retornar até R$ 1,57 à economia, reforçando o papel do Brasil como líder global nessa transição.
De mãos dadas →Esta notícia é um sinal robusto de que a sustentabilidade e o crescimento econômico podem e devem ser objetivos complementares. O estudo, liderado por um dos maiores bancos do país e uma instituição acadêmica de renome, oferece uma base de dados concreta para mudar a narrativa sobre a ação climática no Brasil, transformando o "desafio" ambiental em um "motor" de desenvolvimento. É um chamado para que o setor privado e o governo acelerem essa jornada.
Pilar nas energias renováveis →A expansão massiva das energias renováveis (solar, eólica, biomassa) é um dos pilares centrais do combate ao aquecimento global, pois substitui a matriz energética fóssil por fontes de zero ou baixas emissões. O estudo destaca que o Brasil já tem 88% da matriz elétrica renovável, e a expansão proposta reduzirá ainda mais a emissão de gases de efeito estufa. No setor agrícola, a adoção de técnicas de adaptação e mitigação, como a Integração da Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), ajuda a sequestrar carbono no solo e a tornar a produção mais resiliente aos extremos climáticos, o que é crucial para a segurança alimentar em um mundo mais quente.
A vez do Brasil →No futuro, o Brasil estará posicionado não apenas como um grande produtor de commodities agrícolas, mas também como uma potência global em energia limpa e bioeconomia. O sistema financeiro, como o Itaú, cumprirá um papel crescente de "banco da transição", direcionando capital para projetos verdes, o que vai baratear o custo da descarbonização. Poderemos ver a criação de um "selo verde" brasileiro forte, baseado em critérios de mitigação e adaptação, atraindo capital estrangeiro e transformando o crescimento econômico em sinônimo de resiliência climática e inclusão social.
Demanda por ar-condicionado pode triplicar até 2050
Um novo relatório do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), divulgado na COP30, alerta que o uso global de equipamentos de resfriamento, como ar-condicionado e refrigeradores, pode triplicar até 2050. Impulsionada pelo aquecimento global, o aumento da urbanização e da renda, essa demanda inédita pressionará drasticamente os sistemas elétricos e ameaçará as metas de redução de gases do efeito estufa (GEE), criando um ciclo vicioso de calor e consumo de energia.
O que isso significa
O relatório, intitulado Global Cooling Watch 2025, aponta para um dilema crítico: à medida que as temperaturas sobem, a necessidade de se refrescar se torna uma questão de saúde pública e sobrevivência, especialmente em regiões de clima quente e em desenvolvimento. Contudo, essa solução individual (o uso de ar-condicionado) cria um problema coletivo. O aumento exponencial no uso de resfriamento exige mais eletricidade e aumenta a emissão de GEE, realimentando o ciclo de aquecimento.
Qual a Importância para as mudanças climáticas
A triplicação na demanda por resfriamento tem uma dupla importância negativa para as mudanças climáticas:
- Aumento das Emissões Diretas: Muitos equipamentos de refrigeração usam gases refrigerantes (como os HFCs) com alto potencial de aquecimento global, muito superior ao dióxido de carbono.
- Aumento das Emissões Indiretas: O consumo massivo de eletricidade sobrecarrega a rede e pode levar à ativação de usinas termelétricas, elevando as emissões de carbono e dificultando a transição energética para fontes limpas.
O Futuro
O futuro aponta para a necessidade urgente de uma estratégia global de resfriamento sustentável. Isso inclui o investimento maciço em tecnologias de resfriamento eficientes e que utilizem refrigerantes de baixo impacto climático, como previsto pela Emenda de Kigali. Além disso, o planejamento urbano deve priorizar soluções baseadas na natureza (SBN), como o aumento de áreas verdes e o uso de materiais de construção que refletem o calor, para reduzir a necessidade intrínseca de ar-condicionado nas cidades e evitar um colapso energético e climático até 2050.
Brasil adere à coalizão de eletrificação e ignora biocombustíveis
Durante a COP30, o Ministério dos Transportes do Brasil aderiu à coalizão Drive to Zero, comprometendo-se a ter 100% dos veículos médios e pesados (ônibus, caminhões) livres de emissões até 2040 e 30% das vendas até 2030. Esta adesão contrasta com a defesa do próprio governo e do presidente Lula pelo quadruplicamento da produção de biocombustíveis sustentáveis até 2035, setor estratégico para o agronegócio nacional. A coalizão considera apenas a emissão zero do escapamento, favorecendo a eletrificação e o hidrogênio verde, e desconsiderando o ciclo de vida completo dos biocombustíveis, como o biometano, que são vistos pela indústria brasileira como substitutos promissores para o diesel.
Vantagem comparativa →A adesão do Brasil à Drive to Zero revela uma tensão estratégica na política climática nacional. Por um lado, o país busca se alinhar às metas globais de eletrificação, que são o foco de grandes mercados e montadoras (como a Volkswagen, presente na cerimônia de adesão). Por outro, o Brasil possui uma vantagem comparativa única em biocombustíveis (etanol, biodiesel, biometano) que já estão prontos para descarbonizar o transporte pesado, conforme demonstram os investimentos do BNDES e o aumento nas vendas de caminhões a gás. A exclusão dos biocombustíveis da métrica "zero emissão do escapamento" da coalizão cria um desafio regulatório e de mercado para a indústria brasileira, que investe pesadamente em soluções como o biometano (feito de resíduos) para substituir o diesel.
De qualquer forma, →o transporte pesado é um dos setores mais difíceis de descarbonizar globalmente. A meta de emissão zero do escapamento força a transição para tecnologias como baterias elétricas e hidrogênio verde, que, quando produzidas com energia limpa (como a matriz brasileira), levam a uma redução drástica e direta de GEE (Gases de Efeito Estufa) nas cidades. Contudo, a exclusão dos biocombustíveis é problemática, pois soluções como o biometano têm um ciclo de vida praticamente neutro em carbono (capturam carbono no plantio da biomassa e evitam emissões de metano em aterros) e são soluções imediatas para a frota já existente. O dilema é: a eletrificação promete emissão zero absoluta no uso, mas os biocombustíveis oferecem uma solução de baixo carbono de rápida implementação e alavancam o desenvolvimento da bioeconomia nacional.
Solução híbrida →Melhor seria o Brasil terá que buscar uma solução híbrida e pragmática para conciliar seus compromissos internacionais e seus interesses internos. É provável que o país utilize a eletrificação para o transporte urbano e de curta distância, alinhando-se à meta da Drive to Zero, mas mantenha e amplie a utilização de biocombustíveis para o transporte de cargas de longa distância e setores como aviação, onde a densidade energética do combustível líquido é essencial. Essa dualidade forçará uma discussão global sobre a contabilização da pegada de carbono, exigindo que as métricas internacionais (como as NDCs) considerem o ciclo de vida completo dos combustíveis, de forma a premiar países com forte bioeconomia de baixo carbono como o Brasil.
O que mais
👍Durante Encontro da Lata, evento organizado pela Abralatas no dia 05 de novembro em São Paulo, representantes das três principais fabricantes globais de latas de alumínio reforçaram o compromisso da indústria com a descarbonização e a circularidade, e apresentaram os avanços e desafios na jornada para reduzir emissões até 2030. A lata de alumínio reúne atributos que fazem dela uma das embalagens mais alinhadas aos desafios de sustentabilidade atuais. Além de poder ser reciclada muitas vezes sem perda de qualidade, ela é leve, eficiente e altamente valorizada na cadeia de reciclagem. “O alumínio primário já conta com processos de eletrificação, o que acelera a redução de emissões, e, por ser uma embalagem circular, a lata ocupa uma posição muito favorável na jornada global de descarbonização”, destacou Ramon Arratia, Chief Sustainability Officer (CSO) e Vice-Presidente Global de Assuntos Públicos da Ball Corporation.
👍Ao todo, 17 empresas, incluindo a fabricante de caminhões Volkswagen Truck & Bus, subsidiária do Grupo TRATON, aderiram ao um projeto liderado por especialistas em transporte limpo para implantar caminhões elétricos e pontos de recarga ao longo do corredor Rio de Janeiro–São Paulo. A iniciativa tem como meta colocar 1.000 caminhões elétricos em operação diária até 2030, com potencial para uma expansão ainda maior. Até lá, o projeto poderá evitar cerca de 75 mil toneladas métricas de emissões de CO₂, o equivalente a retirar das estradas as emissões de escapamento de mais de 16 mil carros.
👍Dez países assinaram na COP 30 uma Declaração sobre a Integridade da Informação sobre Mudanças Climáticas. O documento é inédito e estabelece compromissos internacionais para enfrentamento da desinformação climática e promoção de informações precisas e baseadas em evidências. A declaração convoca os governos para o financiamento de pesquisas sobre a integridade da informação climática, principalmente em países em desenvolvimento, e inclui a participação do setor privado em práticas de publicidade transparente e responsável. Até momento, os signatários foram: Brasil, Canadá, Chile, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Espanha, Suécia e Uruguai.
FRASE DO DIA
"nos últimos anos houve muita inovação no setor de biocombustíveis; a produção sustentável de matéria-prima é hoje possível e já implementada por muitos agricultores em várias regiões do mundo.",
professor David Chiaramonti, da universidade Politecnico di Torino.