A caatinga na COP30
Em um evento do Consórcio Nordeste na COP30, o BNDES, o BNB e governos estaduais anunciaram R$ 201,2 milhões em iniciativas para o restauro florestal na região. O destaque é o Programa Floresta Viva, que recebeu novas doações (podendo somar R$ 178 milhões), com ênfase na Caatinga. Deste total, R$ 23,2 milhões serão destinados a 11 projetos do edital “Caatinga Viva”, parceria BNDES/BNB, que visa plantar mais de 2,7 milhões de árvores em 1.630 hectares.
O Que Isso Significa
O anúncio na COP30 demonstra um compromisso financeiro robusto das instituições de desenvolvimento e dos governos estaduais com a pauta ambiental, especialmente em um bioma sub-representado, a Caatinga. A ampliação do orçamento do edital "Caatinga Viva" (de R$ 8,88 milhões para R$ 23,2 milhões) devido à alta qualidade das propostas recebidas é um sinal claro da capacidade técnica e da demanda local por projetos de restauração e desenvolvimento sustentável, articulando a preservação da biodiversidade com a geração de emprego e renda (mais de 600 empregos previstos).
Qual a Importância para as Mudanças Climáticas
O restauro florestal é uma das soluções baseadas na natureza mais eficazes para o combate ao aquecimento global. O plantio de milhões de árvores nativas, como defendido pelo presidente do BNDES, é a tecnologia de maior escala para o sequestro de carbono. Além disso, o foco na Caatinga — um bioma exclusivamente brasileiro e adaptado ao semiárido — é crucial. Ele não apenas ajuda a prevenir a desertificação, um risco climático crescente, mas também oferece a oportunidade de estudar e desenvolver espécies mais resilientes que podem ser vitais em um cenário global de temperaturas elevadas e secas intensas.
O Futuro
A Iniciativa Floresta Viva (que já mobilizou R$ 350 milhões e lançou a segunda fase, Floresta Viva 2025, com R$ 250 milhões esperados) deverá se consolidar como um modelo nacional de financiamento à restauração ecológica. Espera-se que o sucesso dos 11 projetos do "Caatinga Viva" e o monitoramento das 2,7 milhões de árvores plantadas sirvam de catalisador para novos investimentos e a replicação de sistemas agroflorestais (SAFs). Em um cenário de emergência climática, a experiência brasileira em recuperar biomas singulares como a Caatinga pode se tornar um exemplo global de resiliência e adaptação.
Natal inaugura rede de Monitoramento Climático
Em meio à COP30, a Prefeitura de Natal, por meio da Semurb, concluiu a instalação de sua Rede de Monitoramento Climático, uma iniciativa inédita no Rio Grande do Norte que visa fortalecer a resiliência urbana. O sistema conta com 115 equipamentos distribuídos em 57 pontos estratégicos, incluindo escolas e universidades, monitorando variáveis como temperatura, chuva, umidade e radiação solar em tempo real. O projeto, em parceria com a UFRN, integra o Plano Municipal de Mudanças Climáticas (PMMC) e inclui um Transecto Móvel para mapear ilhas de calor e de frescor nos 36 bairros da capital, fornecendo dados concretos para o planejamento urbano.
Gestão de riscos →A implementação desta rede representa um salto qualitativo na gestão de riscos ambientais de Natal. O monitoramento em tempo real e a coleta de dados precisos sobre o clima e microclimas urbanos, como as ilhas de calor, transformam a política ambiental de uma ação reativa para uma estratégia baseada em ciência. Isso permite que a prefeitura se quiser tome decisões mais informadas sobre políticas de arborização urbana, que combatem o calor e melhoram o conforto térmico; drenagem, crucial para prevenir inundações; e planejamento de emergência.
Sequestro de carbono → O sistema de monitoramento é considerada uma iniciativa local vital para a adaptação urbana aos impactos das mudanças climáticas, que incluem aumento das temperaturas médias e eventos extremos de chuva. O mapeamento das ilhas de calor e de frescor, por exemplo, é uma ferramenta essencial para direcionar ações de mitigação do calor, como o plantio de árvores, que é uma das formas mais eficazes de sequestro de carbono e combate ao aquecimento global no ambiente urbano. Ao integrar esses dados ao Plano Municipal de Mudicação e Adaptação (PMMC), Natal garante que suas políticas de desenvolvimento sustentável sejam cientificamente embasadas.
Resiliência urbana → A expectativa da Prefeitura é que no futuro, Natal se consolidará como uma das cidades mais resilientes e bem monitoradas do Brasil. A criação da Sala de Situação e do futuro Centro de Monitoramento Climático centralizará a análise de dados (incluindo radares e satélites), transformando o sistema em um verdadeiro "cérebro climático" da cidade. A criação da Secretaria Adjunta de Mudanças Climáticas formalizará o compromisso, garantindo que a adaptação e a mitigação sejam pilares permanentes da gestão, fomentando a educação ambiental e o engajamento a partir dos dados abertos.
Brasil é Top 4 em descarbonização energética
Uma análise da Rystad Energy sobre as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) mostra que a maior parte da descarbonização global na próxima década virá do setor elétrico e da eletrificação de transportes. O Brasil se destaca no 4º lugar global no ranking de descarbonização energética, atrás apenas de Finlândia, Suécia e Noruega, com 59% de cumprimento em critérios avaliados. O país alcança 85% no critério de matriz elétrica limpa e crescente devido à sua forte base hidrelétrica, solar e eólica. Contudo, o Brasil pontua abaixo da média global em eletrificação (32%), priorizando alternativas como os biocombustíveis no transporte.
Escolha estratégica →A baixa pontuação em eletrificação não é necessariamente um atraso, mas sim uma escolha estratégica que aproveita a vocação do país em biocombustíveis (etanol, biodiesel). Isso indica que o Brasil adota um caminho de descarbonização mais diversificado, utilizando o etanol para a frota leve enquanto reserva a eletrificação para um futuro de maior eficiência e os biocombustíveis mais valiosos para setores de difícil descarbonização, como a aviação e o transporte marítimo.
Menos gases → O alto índice de 85% na matriz elétrica limpa é o maior trunfo do Brasil na luta contra o aquecimento global, pois significa que a eletricidade consumida no país gera muito menos gases de efeito estufa por unidade do que a média mundial. A priorização de biocombustíveis é crucial, pois eles oferecem uma solução de baixo carbono "pronta para uso" no setor de transportes, que é um dos maiores emissores. Ao liberar a eletrificação da frota leve, o Brasil garante que os biocombustíveis se tornem um insumo essencial para descarbonizar a aviação e o transporte marítimo global, setores onde a eletrificação total é logisticamente complexa, contribuindo significativamente para a redução das emissões mundiais.
Multissetorial → O Brasil tende a se consolidar como um líder global em soluções de descarbonização multissetoriais. A eletrificação deve aumentar gradualmente, trazendo maior eficiência ao sistema energético. No entanto, o papel dos biocombustíveis avançados será ampliado e valorizado, posicionando o país como um exportador-chave de energia verde para o mundo, especialmente para a descarbonização da aviação (combustíveis sustentáveis de aviação - SAF) e do transporte pesado.
O que mais
👉A Finep, agência vinculada ao Ministério da Ciência, Inovação e Tecnologia, lançou durante a COP30, três editais de investimentos para empresas e instituições de pesquisa voltadas a sustentabilidade, que somam R$ 460 milhões. Um deles é o Pró-Amazônia 2025, que disponibilizará R$ 150 milhões para as áreas de biotecnologia e valorização da biodiversidade, energias renováveis, gestão de recursos hídricos, desenvolvimento urbano sustentável, saúde pública e tecnologia da informação e comunicação (TICs), inteligência artificial e conectividade. O edital Fundos de Investimento em Bioeconomia e Sustentabilidade, por sua vez, prevê R$ 60 milhões para até dois fundos de investimento que invistam na participação acionária em empresas que atuem com projetos de bioeconomia e sustentabilidade.
👉Com investimentos de R$ 250 milhões, a Finep também está lançando o edital Recuperação e Preservação de Acervos 2025, com recursos são do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). O aporte é voltado a projetos de recuperação de acervos científicos e culturais. O valor mínimo por proposta nos editais é de R$ 1 milhão e o financiamento máximo, de R$ 10 milhões. Entre as principais novidades está o apoio às propostas que favoreçam o acesso físico e/ou digital de PCDs (Pessoas com Deficiência).
👉O governador da Califórnia, Gavin Newsom, reafirmou ontem o compromisso de seu estado com a agenda climática durante a COP30, em Belém. Um dos mais ferrenhos opositores do presidente americano, Donald Trump, o político democrata apresentou a Califórnia como um parceiro estável e confiável em termos climáticos. Em entrevistas e discursos ao longo do dia, ele classificou o que chamou de “abandono climático” do presidente Donald Trump como “abominável” e uma “completa vergonha”. “Em vez de apenas reclamar, estamos tentando fazer algo a respeito”, disse Newsom. “Estou aqui porque não quero que os EUA sejam apenas uma nota de rodapé nesta conferência”.
Frase do dia
“Se a gente disser por aí que vamos fazer data center com energia 100% renovável, vai ser o primeiro data center do mundo que só vai funcionar de dia”,
deputado Fernando Filho (União/PE), ex-ministro das Minas e Energia