Primeira semana da COP30 termina com impasse
A primeira semana da COP30 em Belém encerrou com impasse nos temas centrais, alimentando temores sobre a entrega de resultados concretos. No centro do bloqueio está a divisão entre países ricos e em desenvolvimento. As nações desenvolvidas exigem compromissos climáticos mais ambiciosos, mas o Sul Global insiste que só elevará suas metas com a garantia dos recursos financeiros prometidos. Diplomatas relatam um endurecimento nas negociações, com países em desenvolvimento acusando as nações ricas de não cumprirem as promessas de financiamento e alertando que a crise climática não pode ser enfrentada às custas dos países mais vulneráveis. O Brasil, como país-sede, atua como mediador e promete intensificar conversas bilaterais para destravar a agenda.
Além dos impasses nas negociações, a conferência enfrentou problemas organizacionais incomuns. A ONU formalizou uma crítica à gestão da "Blue Zone", área oficial de negociação, após a invasão de manifestantes na terça-feira, apontando falhas de segurança e cobrando ajustes imediatos. Delegações também reportaram falhas operacionais atípicas para um evento dessa escala, como problemas na refrigeração dos pavilhões e falta de água em banheiros. A presidência da COP se mobiliza para resolver as pendências e garantir o avanço das discussões na próxima semana.
O "Porongaço" na COP30
Mais de mil extrativistas de diversos biomas realizaram o "Porongaço dos Povos da Floresta" em Belém, um dos principais atos populares da COP30. Utilizando a "poronga", lamparina que simboliza o trabalho e a luta não violenta de Chico Mendes, o ato defendeu a integridade dos territórios tradicionais como chave para o equilíbrio ecológico. Eles entregaram a "Carta das Populações Tradicionais Extrativistas" às ministras Marina Silva e Sônia Guajajara. Dados científicos comprovam que as Reservas Extrativistas e Assentamentos Agroextrativistas conservam mais de 42 milhões de hectares e armazenam 25,5 bilhões de toneladas de CO₂. O documento final lista seis eixos de reivindicações centrados no reconhecimento, financiamento direto e protagonismo desses povos na governança climática.
O que isso significa
O "Porongaço" simboliza o legado de resistência dos Povos da Floresta (relembrando os "empates" de Chico Mendes) e afirma que a solução para a crise climática não está apenas na alta tecnologia, mas sim nos saberes e práticas de conservação tradicionais. O ato transforma a luta local em uma demanda global, forçando o reconhecimento oficial de que os extrativistas não são apenas guardiões, mas também autoridades climáticas essenciais, exigindo acesso a financiamento e participação direta nas decisões políticas sobre o clima.
Qual a Importância para as mudanças climáticas
A importância é dupla: Mitigação e Justiça Climática. Do ponto de vista da mitigação, as áreas conservadas por extrativistas são responsáveis por sequestrar e armazenar bilhões de toneladas de CO₂, sendo cruciais para atingir as metas brasileiras de redução de GEE (GEE). Do ponto de vista da justiça, o fortalecimento desses territórios (e o apoio à sociobioeconomia) garante a resiliência climática das populações mais vulneráveis e combate diretamente o desmatamento, que é a principal fonte de emissões no Brasil.
O Futuro
A Carta das Populações Tradicionais Extrativistas deverá se tornar o roteiro para a política climática brasileira na Amazônia, integrando as Reservas Extrativistas diretamente às NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) e aos mecanismos de pagamento por serviços ambientais. O próximo passo será a criação de canais de financiamento climático direto e simplificado (como o Fundo Puxirum) para as comunidades, garantindo que o protagonismo e a voz dos Povos da Floresta sejam elementos centrais na governança global e local do clima.
Resistência dos produtores de petróleo ameaça o Plano Global de Transição Energética
Na COP30, o debate sobre a transição energética esbarra novamente na viabilidade e no financiamento das ações de descarbonização. A meta, que visa a neutralidade de carbono até 2050 carece de um plano de execução concreto. A principal resistência é liderada por países produtores de petróleo como Arábia Saudita, preocupados com o fim do uso de combustíveis fósseis. Há um forte dissenso sobre a responsabilidade financeira: nações em desenvolvimento defendem que os países mais ricos devem arcar com a maior parte dos custos. O investimento anual necessário é estimado em mais de US$ 1 trilhão, muito acima dos US$ 300 bilhões anuais previstos.
O que isso significa
O impasse reflete uma profunda divisão geopolítica e um conflito de interesses entre o lucro imediato da exploração fóssil e a urgência climática global. A falta de um plano financeiro robusto e a resistência de grandes produtores minam a credibilidade e a efetividade dos compromissos climáticos internacionais, tornando o "Mapa do Caminho" uma aspiração sem garantia de execução.
Qual a Importância para as mudanças climáticas
A aprovação de um plano de transição energética vinculativo é o ponto crucial da COP30. A lentidão e a ausência de um fundo financeiro substancial impedem a substituição rápida dos combustíveis fósseis, a principal causa do aquecimento global. O sucesso desta conferência é vital para alinhar o mundo com os objetivos de temperatura do Acordo de Paris.
O Futuro
Se o impasse financeiro e a resistência dos produtores de petróleo persistirem, o compromisso de neutralidade de carbono até 2050 corre o risco de se tornar inviável, comprometendo o futuro climático. Um cenário otimista exigirá a renegociação do financiamento climático e a criação de mecanismos de compensação justos para garantir a adesão de todas as nações à matriz energética limpa.
O que mais
👉Um estudo apresentado na COP30, em Belém, revela que o Brasil está experimentando uma escalada sem precedentes de desastres climáticos, incluindo ciclones, frentes frias e ondas de frio. O número de ocorrências ligadas a esses fenômenos aumentou 19 vezes em três décadas, passando de uma média anual de 2,3 nos anos 1990 para 44 entre 2021 e 2024. O levantamento, realizado pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica com a Unifesp e a Fundação Grupo Boticário, contabilizou 407 desastres entre 1991 e 2024, um crescimento de 1.800%, atribuído ao aquecimento global.
👉O Rio Grande do Norte passa a contar com um novo marco legal para fortalecer a sustentabilidade e a formação cidadã. O Governo do Estado sancionou o Projeto de Lei de iniciativa do deputado Hermano Morais ( PV), que institui a Política Estadual de Educação Ambiental (PEEA), o Sistema Estadual de Educação Ambiental (SisEEA) e o Programa Estadual de Educação Ambiental (ProEEA). O Sistema Estadual de Educação Ambiental, criado pela lei, será responsável por articular programas, monitorar ações, sistematizar dados e orientar políticas públicas setoriais. Já o Programa Estadual de Educação Ambiental definirá linhas de ação e metodologias para a implementação prática da política em escolas, comunidades, áreas protegidas e setores produtivos.
👉Na última terça-feira (11), o Ministério da Agricultura autorizou o registro de 30 novos agrotóxicos para uso no Brasil. Destes, 16 são produtos oficialmente classificados como "muito perigosos para o meio ambiente", enquanto os demais receberam classe 3, que significa que são "perigosos para o meio ambiente".
Frase do dia
“A Justiça do Trabalho se coloca como parte dessa conversa, porque a transição ecológica que não for justa, que não proteger o trabalhador, a trabalhadora, os povos originários e as comunidades tradicionais não será transição. Será apenas a substituição de um modelo de exploração por outro",
Ministro Vieira de Mello Filho, presidente do TST